quarta-feira, 20 de abril de 2011

Scène 3#

Maria corre descalça no chão batido revirado pelos pneus da Variant encardida.
Vestida de festa, ela chora enquanto inspira toda a terra e fura seu pé numa das muitas garrafas quebradas por ali.
Logo chega a mãe e o irmão mais velho e por mais que nomes tivessem, seriam como são, coadjuvantes de Maria.
Carregada quase à força, entrega seus olhos às pálpebras e o corpo salgado...

Maria correu
Fez da tripas coração
Com agulha e barbante suturou.
O que sobrou fez Cortinas Pallasito.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Os velhos doloridos abraços de fins de semana

...Se passavam mais de 12 dias de chuva incessante.
Os jornais e plantões estavam repletos de histórias tristes.
Vivíamos no tempo da chuva.
Indiferentes, reflexivos, espectosos.
Nem rápidos demais, nem lentos demais,
apenas no tempo da chuva .
Lembro de Katja entrando rápido sala adentro
Minha avó viúva de alma aconselhando meu pai pelos pés dos ouvidos:
-O buraco é certo Manni
A condução para de frente
Não poderia ir.
Todos na varanda
O velho ao fundo perto da porta
Quatro mulheres em uma casa de seis leoas.
Indiferentes, reflexivos e espectosos.
A chuva permaneceu por mais alguns meses
Os espelhos amanheceram cobertos,

E uma vez por dia sentimos o nada
Absolutos três segundos de puro...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Cereja

Umas noites se passaram
Sonhei com uma parte do corpo aberta
Dessa parte só saíram sementes
Sementes secas
Grandes sementes secas
Escuras
Quase empoeiradas

Deve ser coisa de geração
Confesso que me arrepiam os olhos
Quando rebobino a fita

É como quebrar a perna de um atleta
Deixar surdo o violonista

Mas o mundo tem disso

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

G mudo

É certo como um espaço fica curto por mais longo que seja
Que o tempo tem tempo próprio por mais ilógico que pareça
A Augusta me parecia menos bonita aquela noite.
Prostitutas, playboys, gays, bêbados
Todos felizes... ou querendo ser
E eu como um corpo andante sem cérebro aparente, sem beleza aparente... sem vida
Nem ladrões me roubariam aquela noite

É certo que a aposta foi alta
Que os olhos esperavam um pouco mais do que nunca haviam visto
A Paulista natalina decorada e eu decorando os passos, as coisas
Escaneando, repetindo, ruminando as mesmas notas
Todos perdem as faces e se acham notáveis
E eu com telefones e relógios... sem cigarros e bebidas
Só você poderia ter feito essa noite

É fato que estava linda
Que perdi a compostura e a essa altura oito anos mais novo, mais burro
O cinema parecia uma ótima pedida, meio perto, muito longe
Encostei, recolhi, observei, remoí você de lá... fora dos livros
Todos olhavam a tela
E eu morri


Uma corda, um envelope, um tchau
E depois?


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Merry

É só vontade de ficar parada, sem fazer nada.

Abusar do estado vegetativo
Foco nas formigas invadindo os pratos, os copos a sua boca
Saiu um pouco pensar
Uma vontade imensa de ficar sozinha e não ter que assistir os últimos 90 dias do ano em que passamos correndo e fazendo tudo aquilo que não tivemos coragem, pra ver se nos redimimos com nosso Deus Cerebelo.
O Umbral é aqui, certeza .
Temos um casal 20 e um sério problema com a semiótica.
Está mesmo tudo bem ? Você me parece meio cansado ?
Temos mesmo que escolher um lado ou podemos simplesmente viver.
Você me quer porque me falta um braço?
Posso.
Ainda.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Plano de palha

Procurei um cantim pra mim
Donde sempre quis pra estica as canela
E pranta meu capim de frente pro rio
Cuma casinha feita prela mais assim pro fundo
Pra eu puder assim protege du frio

Um cantim donde eu num precisasse de trancar nem porta nem janela
Feito pras criança corre
Enquanto eu pico meu fumim olhando prela

As veiz até há de passá um compadre aqui
Que as veiz vem de longe só pra provar
Um gole do café moído nos braço que eu mess faço
E um trago do meu fumim
Que eu mess prantei nos pé do riacho
Dispois do pomar

Procurei esse cantim,
Feito quem procura moeda perdida
Pra junta o conjunto com os tecladim, batuque e viola
Na certa medida alta dos volume,
Sem ninguém pra amola
E um RockRurar nois poder tocar




quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Pensando Alto

Sonhei que falava com o Senhor.
Eu não tinha medo dele.
Na beira da montanha um banho de nuvem e meia dúzia de grilos dançando ao som de Cab Calloway.
Um caminho nos arbustos me leva pra dentro de uma casa.
"- E aí?"
"- Eu tava lá! Cabelo no ombro, cigarro na mão, a gente conversou e eu sumi..."

Tudo era meio lento. Nos olhos não se viam pupilas, só um branco lavado levemente florescente.
Todo entusiasmo nuclear era pouco. A falta de expressão não era sinônimo de indiferença, só paz

Meu lado certo da cama é toda ela.

E no quadro...

Chega de nuvem, eu quero é chuva