segunda-feira, 8 de março de 2010

Rua 99

Só o olho consigo ver daqui.
fecha e abre devagar. Cansado.
permanece atráz do carro, agachado... Covarde.
Leva a mão por dentro da camisa prenssando-a contra a barriga flácida.
As unhas pretas vão à boca.
Dá pra ver o pouco dos dentes quase todos podres.
A bala de maçã verde de dentro dos trapos é a melhor, lembra a infância de alguém.
Coloca com cuidado dentro da boca imunda, bem ali no canto esquerdo.
Imita a propaganda de sorvete que viu na vitrine da esquina, onde comprou seu corote. Fecha o olho devagar, respira fundo.

Os olhos abrem. Sua cabeça já está lambendo o chão.
Só mais alguns arranhões nessa coleção de rua

Entra no carro a mocinha. Idade da filha que deixou quando partiu
Dirigindo vai um velho.
mesa de jantar, coxa gordurosa na boca.
Pança de homem leviano.
Anel de doutor no dedo mais sacana da mão que sobe à perna.
A menina? Coagida e coadjuvante.
Sorriso debochado esmagando o infantil.

A lama do pneu, a virilha do homem no chão,o chorume e o resto do lixo que ele come.
Nada cheira tão mal quanto o cachorro velho e sua carniça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário